Uma alegria, franca e livre, alumiava a sua face magra. Todo ele parecia respirar com delícia o ar áspero e livre da serra: – e os seus olhos refulgiam, com um grande fulgor risonho.
Diante de Gil, parou, batendo com o bastão na rocha.
– Como se chama esta serra e onde leva este caminho?
Gil tirou o seu gorro, com cortesia.
– Esta serra não tem nome, e este caminho só leva a outras serras... Para onde ides?
O moço limpou lentamente o suor, que lhe alagava a testa:
– Vou procurando terras de França...
– Assim, para tão longe, a pé!
O moço riu alegremente:
– É que o Senhor Rei, quando distribuiu as terras e os solares, esqueceu-se de me dar uma, e uma mula para jornadear custa bom ouro. Mas as pernas são rijas e mais rijo o coração. E ele que me Leva, neste desejo de ir a França, para entrar nas escolas, e saber o grande saber, e vir a ser Físico-mor no paço de um rei, ou ensinar decretais num conselho. Na herdade em que nasci só havia um livro, que era o missal da capela. E como em todo o mosteiro há uma côdea de pão para um mendigo, e nos ribeiros não falta água, aqui me vou, com o meu cajado, cantando por estes caminhos da terra.