depois, em silêncio, foram à igreja, onde muito tempo rezaram.
Sem outras lágrimas, ainda que com grave melancolia, foram feitos os aprestos da longa jornada. Duas possantes mulas de caminho, uma para Gil, outra para o seu escudeiro Pêro, vieram da Feira da Covilhã, com os seus arreios novos. Os alforges de couro foram atulhados de roupas novas: – e o ovençal de D. Rui reuniu quinhentos maravedis de ouro. O bom abade dos beneditinos deu cartas de boa acolhida para os conventos de Espanha e de Provença, e um monge, que fizera a jornada, marcou num grande pergaminho o roteiro que, através de Castela e de Leão, levava à cidade de Paris. Na véspera da jornada, a capela do solar e a igreja de Gonfalim estiveram toda a noite alumiadas, com capelães e os solarengos rezando, para que o Senhor guardasse o fidalgo que partia. D. Tareja lançou ao pescoço do filho uma relíquia, um pedaço do manto da Virgem, dentro de um escapulário. Nessa madrugada Gil ouviu missa – e o velho Frei Múnio deu a bênção a tudo que ele levava, armas, alforges, o grande lebréu e a mula. Pelas horas de matinas, estando todas as aias e serviçais reunidos no pátio – D. Gil apareceu, entre o pai e a mãe, pálido, com o seu grande feltro de jornada, um brial escuro, e grandes botas de couro cru, onde brilhavam acicates de ouro. De joelhos, recebeu a bênção do pai,