porta,e grunhia, com os olhos vagos, para a mãe: Han! Han! A pobre mulher já perdera a esperança de o ouvir chamar mãe e pai. Já não duvidava de ter concebido um mudo, um imbecil. E na sua dor, num resto de orgulho, não permitia que Cristóvão transpusesse a sebe da horta, descesse abaixo, aos caminhos, com receio que os trabalhadores da floresta, as vizinhas da aldeia, o encontrassem, descobrissem a sua monstruosidade, lamentassem a tristeza do seu lar.
Mas o que sobretudo a aterrava era a insensibilidade de Cristóvão à dor, como coisa diabólica. Uma vespa mordera-o na face, e ele nem chorava, nem a pele lhe inchara. Sentava-se indiferentemente sobre musgo fresco, ou sobre as selvas espinhosas. E um dia mergulhara a mão na água a ferver, e retirara-a, quieto, como se ela fosse de pedra.
— Ai! meu homem – murmurava a pobre mãe – que malogro o nosso!
Ele suspirava, sombriamente. Toda a sua alegria, diante daquela robustez primeira do filho, tão prometedora, se mudara em dor constante, perante a sua deformidade – porque Cristóvão não falava, tinha a simplicidade de um serzinho no berço, e já lhe dava pelo ombro, forte como ele, com grandes músculos, mãos formidáveis que brandiam no ar a sua machada tão facilmente como uma varinha de