da realidade, o seu gosto, a sua arte de composição, a fraqueza ou a força do seu traço; e, pelo menos, admiro sem reserva em V. Exª o ardente Satírico, neto de Quevedo, que põe ao serviço da sua apaixonada misantropia, o mais quente e o mais rico sarcasmo peninsular. E os seus amigos, esses, admiram apenas em V. Exª, secamente e pecamente, o homem que em Portugal conhece mais termos do Dicionário!
Sempre, «a todo o talho de foice», em artigo, em local, em anúncio de partida, em felicitação de dia de anos, V. Exª é pelos seus discípulos e amigos louvaminhado e turibulado – como o grande homem do Vocábulo, esteio forte de Prosódia, restaurador da Ordem gramatical, supremo arquitecto das frases arcaicas, acima de tudo castiço, e imaculadamente purista! E ainda mais na intimidade, os amigos de V. Exª o celebram como o homem que melhor sabe descompor o seu semelhante! E isto tão obstinadamente murmurado ou clamado, que esta geração mais nova, para quem já vou sendo um velho e V. Exª quase um fantasma, não tendo como eu e os do meu tempo rido e chorado sobre os seus livros de paixão e de ironia, o imaginam a V. Exª um intolerável caturra, de capote de frade, debruçado sobre um sebento Léxicon, a respigar termos obsoletos para com eles apedrejar todos os seus conterrâneos!