presentes de flores ou de almofadas bordadas, que revelam que existe algures uma doce criatura a quem o poeta parece tão poético como os seus poemas, e que está desejando sentir bater o mais perto possível do seu coração, à distância de um corpete de vestido, de um chambre, ou ainda de menos, o coração eloquente e cálido de onde brotou tanta paixão bem rimada... Em Portugal, não consta das indiscrições pessoais, nem dos anais literários, que jamais isto sucedesse – nem mesmo àqueles que foram, por profissão ou temperamento, poetas de sentimento.
Os volumezinhos de João de Lemos, de Soares de Passos, estiveram anos sem conta em todos os cestos de costura: e essas composições poéticas, tão doloridas e libidinosas, que eles intitulavam A ti! A ela! fizeram suspirar e cismar sobre os seus bordados, ou sobre os seus tachos de doce, duas gerações de senhoras... Poucas eram então as soirées de terra pequena, em que lindos olhos negros se não humedecessem, quando um bacharel se erguia, depois do chá, e, com o lenço branco na mão, dizia às senhoras o Noivado do Sepulcro, os dois amorosos esqueletos enganchados um no outro, ou então esse famoso Adeus! que foi nestes remos, durante vinte anos, a expressão oficial, e a única garantida pela academia, das dores da separação e das torturas da ausência. E a quantas janelas