não pode fazer, mas Deus pode; por exemplo: ressuscitar. O impossível metafísico, que nem ao homem, nem a Deus mesmo é permitido, como, por exemplo, que uma coisa, ao mesmo tempo, seja e não seja!
«Que nem a Deus é permitido!» Havia pois alguma coisa que nem a Deus era permitida? E quem era então esse outro poder, que, mais omnipotente, mais alto nas nuvens, lho não permitia? A minha cartilha, traduzida também do francês, com a aprovação de um bispo francês) ensinava-me, por outro lado, que Deus é absoluto) de ilimitado poder, e que as suas vastas mãos, que o Universo fizeram) podem o Universo desfazer. Qual tinha pois razão, destes dois livros que o Estado me impunha? A Cartilha? A Lógica? Dúvida pavorosa, primeiro tormento de alma, em que só antevia uma coisa certa) inevitável: – o R, a raposa. Mas bem depressa compreendi que esta Lógica, com a divertida, faceta, incomparável Retórica, que tive de decorar durante um ano, eram decerto disciplinas em que o Estado não tinha interesse que eu fosse perfeito. O seu desejo estava todo em que eu soubesse bem francês. Quando cheguei na dili-gência a Coimbra, para fazer o exame de Lógica, Retórica e Francês, o presidente da mesa, professor do Liceu, velho amável e miudinho, de batina muito asseada, perguntou logo às pessoas carinhosas que se interessavam por mim: