– Sabe ele o seu francês?
E quando lhe foi garantido que eu recitava Racine tão bem como o velho Talma, o excelente velho atirou as mãos ao ar, num imenso alívio.
– Então está tudo óptimo! Temos homem!
E foi tudo óptimo, recitei o meu Racine, tão nobremente como se Luís XIV fosse lente, apanhei o meu nemine, e à tarde, uma tarde quente de Agosto, comi com delícia a minha travessa de arroz-doce na estalagem do Paço do Conde. E desde então nunca mais saí do francês. Quando no último ano de Preparatórios, o Estado, subitamente, se lembrou que era conveniente que eu tivesse algumas noções do Universo, foi através de um Compêndio francês, o Langlebert, que me relacionei com os três Remos da Natureza. Conheci mais tarde em Paris este Langlebert, que é um médico, no Quartier Latin. E contei-lhe como nas páginas tão sabiamente por ele compiladas, eu aprendera de cor a fórmula química da água e a teoria do pára-raios. Langle. bert, coçando risonhamente o seu espesso colar da barba, considerou-me com ternura, como a um bárbaro que dá proveito:
– Oui, oui, vous n‘avez pas de ces Livres là-bas... Et j’en suis bien aise! Ça me fait une jolie rente...
Creio bem que lhe fizesse uma linda renda não termos esses livros cá em baixo!