os meus amigos, cada romancista, cada poeta francês, não só na sua obra, mas na sua vida – nos seus amores, nos seus tiques, e no seu estado de fortuna. Foi por esse tempo que eu e alguns camaradas nos entusiasmámos pela pintura francesa!... E extraordinário, bem sei, considerando que estávamos então a seis longos dias de viagem do Louvre e do Luxemburgo, e do Salon. Mas tínhamos os críticos, todos os críticos de arte, desde Diderot até Gautier, e era na prosa deste que nós admirávamos estaticamente a sobriedade austera de Ingres ou o colorido apaixonado de Delacroix. E em tudo isto eu obedecia sempre a um impulso, a uma grande corrente, como uma folha que bóia na água.
Com a minha carta de bacharel num canudo, trepei enfim um dia para o alto da diligência, dizendo adeus às veigas do Mondego. Justamente nesse mesmo tejadilho ia um francês, um commis-voyageur. Era um colosso, de lunetas, duro e brusco, com um queixo maciço de cavalo, que, à maneira que o coche rolava, ia lançando através dos vidros defumados um olhar às terras de lavoura, aos vinhedos, aos pomares, como se os sopesasse e lhes calculasse o valor, torrão a torrão. Não sei porquê, deu-me a impressão de um agiota, estudando as terras de um morgado arruinado. Conversei com este animal; ele pareceu surpreendido da minha