minoria, feita de alguns políticos, alguns literatos, alguns banqueiros e alguns mundanos; a vasta maioria do país, a burguesia das vilas, a gente dos campos, permanece portuguesa, conservando no seu sentir e no seu pensar o fio da tradição, que seria fácil ir buscar lá, para com ele se continuar a tecer a nossa verdadeira civilização de feitio português.
Nenhum erro maior! Essa vasta maioria não conta. Um país, no fundo, é sempre uma coisa muito pequena: compõe-se de um grupo de homens de letras, homens de estado, homens de negócio, e homens de clube, que vivem de frequentar o centro da capital. O resto é paisagem, que mal se distingue da configuração das vilas ou dos vales.
É a gente sonolenta da província, que apenas se diferencia das pequenas vielas, tortuosas e sujas, onde vegeta; são os homens do campo, que mal se destacam das terras trigueiras que semeiam e regam. A sua única função social é trabalhar, pagar. A direcção de um país é dada justamente por essa minoria da capital. Quando algum jornalista e algum político de Paris quiser que a França seja republicana, proclama-se a república; quando preferir que haja monarquia, sobe um sujeito, com uma coroa na cabeça, ao trono de Luís XIV. Não são os camponeses da Beauce, nem os burgueses de Orleães, que escolhem para a França o barrete vermelho ou a coroa fechada.