uma vasta charneca muda, sob a bruma. Da nossa vizinha Espanha, nada sabemos. Quem conhece aí os nomes de Pereda e de Galdós? A literatura inglesa, incomparavelmente mais rica, mais viva, mais forte e mais original que a da França, é tão ignorada, apesar de geralmente se saber inglês, como nos tempos remotos em que vinte longos e laboriosos dias eram necessários para ir de Lisboa a Londres. Há alguns anos, um personagem, um Político, um Homem de Estado perguntava-me, com um ar de suficiência e superioridade:
– Lá por Inglaterra também há alguma literatura?
E ainda recentemente um homem excessivamente culto, conhecendo perfeitamente o inglês, me dizia:
– A respeito da literatura, imagino que deve ser alguma coisa de muito brilhante e de muito grande; mas, a não ser Dickens, que morreu há vinte anos, não posso citar um só nome, e de nenhum outro posso citar uma só linha!
E todavia não é a curiosidade que nos falta. Mas estamos colados às saias da França, como às de uma velha amante, a que nos acorrente o vício e o hábito, e de quem não ousamos afastar-nos, para ir falar a alguma mulher mais interessante e mais fresca. Há tempos, na curta distância que vai do Rossio ao Loreto,