o dedo, a olhar para o Sol. Debalde o bom lenhador lhe afiançara a sua mansidão a sua simplicidade: a velha serradeira temia aquela mansidão muda, como uma toca escura e sem ruído, de onde podia surtir uma fera. Mas quando, durante longos dias, ela o viu quieto sob a cerejeira, sorrindo às formigas que lhe trepavam pelas pernas já peludas, ou, encruzado diante da horta, pasmar, chupando um teto, para o fuso que ela fiava – a velha reconheceu a sua simplicidade, e considerou que ele era como um animal caseiro, porco gordo ou borrego, que pertencesse à choupana. Para não sentir mesmo pousados nela aqueles olhos azulados e sem brilho, e aquele corpo disforme atravancando a cabana, tapando a luz, empurrava-o para a horta, e lá lhe levava, ao bater do meio dia, a sopa e a ração de broa, numa grande malga, que pousava no chão: e Cristóvão ali passava os seus dias, sentado, remexendo a terra com os dedos lentos e vagos, seguindo o ramalhar das folhas, ou, a passos lentos, rente da sebe, alongava para os campos, para os arvoredos de além, o olhar pasmado e sem brilho, com a quietação do boi farto. A serradeira, no entanto, varria o chão, areava as ferragens do armário, batia o colchão do catre, ou sentada à porta fiava até que, às Trindades, soavam no caminho os guizos da égua branca, que o bom lenhador trazia à rédea.