Poupa ás faces da deusa a onda purpurea!
Pinta-a, ideando-a só! o audaz recacho,
O torso, e o resto, sem, tremenda injuria,
A tunica rasgar-lhe de alto abaixo!
Comecemos pela cabeça, séde da expressão, cofre das ideias generosas e apaixonadas; e, na cabeça, comecemos pelos olhos, janellas por onde a alma se debruça. Olhos negros, olhos azues, olhos verdes, olhos garços, quantos poemas tendes inspirado no Brasil! E’ pelos olhos que o espirito espia, é por elles que os primeiros desejos se communicam, é por elles que sae e entra a primeira seducção, é por elles que se estabelece a primeira conversação, é por elles que salta a apertada, a invisivel, a traiçoeira rede em que os namorados são colhidos, e é, emfim, por elles que a mulher é sincera, porque, como disse um poeta, “os labios mentem, os olhos não!”
Os olhos negros... Quanta cousa sublime ou graciosa, tragica ou delicada teem visto nelles os poetas! São os olhos da volupia infernal, na paixão que allucina; da febre, do ciume. Se Valentim Magalhães pôde idyllicamente comparal-os a bagos de uvas:
“— São teus olhos, me servindo
De uma rustica poesia,
Bagos de uva, reflectindo
O fulgor do meio-dia, — ”
já Medeiros e Albuquerque os injuria, vendo dentro delles uma quadrilha de salteadores da Calabria: