Leguas e leguas de ceu!... E esse mesmo poeta, fitando esses mesmos olhos, dentro delles descobriu as almas que os animavam:
Se esses brilhantes olhos seductores
Avido encaro, soffrego analyso,
Como de lente armado, se é preciso,
Estuda o sabio a cellula das flores,
Noto o principio, allucinado, attento,
Nelles um ponto azul: e, penetrando
Mais fundo, abertas vejo rutilando,
Duas camaras cor do firmamento,
Duas formosas camaras azues,
E, dentro d’ellas, arco e flecha erguidos,
Dois amores pequenos e atrevidos,
Movendo no ar os seus bracinhos nús...
Mas o maior feiticista dos olhos, na poesia brasileira, foi Gonçalves Dias, que passou a vida a cantal-os e amal-os, sem preferir uma côr a outra, — olhos negros das tricanas de Coimbra, olhos garços e travessos das francezas, olhos azues das inglezas e das allemans, olhos pardos das tapuias do norte do Brasil, — até que naufragou no verde mar traidor de uns olhos que o perderam: