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Nas vossas roscas cheirosas,
Eu sinto o aroma orvalhado
Que habita o seio dourado
Da madresilva e das rosas...

Por isso, amor, quando vejo
Esses escuros novellos
Revoltos, tenho desejo

De aspiral-os, de sorvel-os,
E de morrer como um beijo,
Nas ondas dos teus cabellos...

Alberto de Oliveira quiz ter o mesmo genero de morte, mas dentro de uma cabelleira loura:

Quero-te aqui, minha somente! os braços
Meus, e o collo, e a cabeça, e a boca, e o rosto!
Tu matarás todo o infernal desgosto,
Toda a amargura que me segue os passos!

Seja dia ao nascer, seja sol posto,
Ou chova, ou torrem callidos mormaços,
Tu me serás repouso aos membros lassos,
Minha somente, meu marmoreo encosto...

Em ti, como num céo que é meu de agora,
As azas cance o espirito suspenso,
Sacie-se o ideal que me devora...

Vamos! do seio mostra-me o thesouro!
Solta os cabellos! e que eu morra, o incenso
Bebedo haurindo d’essa nuvem de ouro!...