Um pé como eu já vi, subindo a escada
Da casa de um doutor...
Da moçoila gentila erguida saia
Deixou-me ver a delicada perna!
— Padres, não me negueis, se estaes em calma,
Um coração no pé, na perna uma alma...
Um pé, como eu já vi, junto á ottomana,
Em fervido festim,
Tremendo de walsar, e envergonhado
Sob a meia subtil, e a cor do pejo
Deixando fluctuar na veia azul,
Requebro, amor, feitiço, — um pé taful...
Um pé, como eu já vi, de tez mimosa,
De tez folha de rosa,
Leve, esguio, pequeno, carinhoso,
Apertado a gemer num sapatinho:
— Um pé de matar gente e pisar flores,
Namorado da lua, e pae de amores...
Eu, poeta do amor e da saudade,
Depois de morto, peço
Em vez da cruz, sobre a funerea pedra,
A fôrma do seu pé...
E ainda ha, na poesia brasileira, um exemplo mais frisante de feiticismo pelo pé. São os celebres versinhos de Francisco Octaviano, senador do Imperio, ministro e conselheiro de Estado, — poeta lyrico, que foi ainda mais longe do que José Bonifácio, porque, ainda depois de morto, queria ter o prazer de ser pisado, na cova, por um certo pé: