— Querem vocês passar a noute aqui?

Um negro de pouca idade atirou-lhe à face irritante injúria. O ofendido agitou o látego em forma de ameaça.

Esse gesto imprudente foi para o malaventurado feitor uma sentença fatal. O negrinho saltou sobre ele de fouce em punho e arrebentou-lhe o crânio.

A vítima ainda com vida foi logo carregada por dous escravos até a beira de um profundo precipício e lá atirada.

Pouco depois de ouvir-se o choque abafado do corpo mergulhado na torrente que estrondava no fundo do grotão, uma voz viril bradou de longe:

— Então! Não se recolhem?

Aparecia o fazendeiro que, achando singular a demora dos escravos no campo, viera verificar o motivo dela.

A sua pergunta foi respondida por um desafio.

Adiantou-se devagar o fazendeiro e correu os olhos pelos escravos.

— O que fizeram do feitor? Respondam, miseráveis! gritou ele sentindo a falta desse negro.

— Venha ver! disseram os escravos, apontando para umas nódoas de sangue na beira do precipício.

O senhor compreendeu então. Havia revolta. O feitor fora morto e lançado num abismo que já se apresentava aos olhos do fazendeiro como uma sepultura cavada também para ele.

Os negros iam se aproximando do senhor em atitudes hostis. As fouces giravam em suas mãos, desejosas de mergulhar no sangue. O lavrador sem tremer engatilhou um rewolver.