toda a desgraça da minha vida. Paulo B. não soube compreender a grandeza de meu amor, cumulou-me de desgostos e de aflições domésticas, desrespeitou seus deveres conjugais, e sacrificou minha fortuna em favor de suas loucas paixões. Não tivera eu uma filha, que jamais de meus lábios cairia sobre ele uma só queixa! Mas ele me perdoará do fundo do seu sepulcro; porque sua filha mais tarde foi o objeto de toda a sua ternura, e a dor de fracamente poder reabilitar sua casa em favor dela lhe consumia, e ocupava o tempo. E ele teria sido bom; sua regeneração tornar-se-ia completa, se o ferro do assassino lhe não tivesse cortado em meio à existência!
E uma lágrima pendeu dos olhos alquebrados da desditosa viúva.
— Assassinaram vosso marido, senhora? – interrompeu-a o hóspede horrorizado.
— Assassinaram-no, sim – tornou Luísa B. com voz pausada.
— Oh! Isso é horrível! E sabeis vós quem foi o seu assassino?
— Não, senhor. Ninguém, a não ser eu, sentiu a morte de meu esposo. A justiça adormeceu sobre o fato, e eu, pobre mulher, chorei a orfandade de minha filha, que apenas saía do berço, sem uma esperança, sem um arrimo, e alguns meses depois, veio a paralisia – essa meia morte – roubar-me o movimento e tirar-me até o gozo ao menos de seguir os primeiros passos desta menina, que o céu me confiou.
— Oh! – disse o cavaleiro comovido – quantas desgraças! E não tendes suspeita alguma de quem quer que fosse esse assassino, que a justiça não procurou punir?