sua ardente imaginação, seguia-o na sua divagação, escutava-lhe a voz no rumorejar do vento, via-o no meio da solidão, e afagava-o com seus meigos transportes nesses lugares onde só estavam ela e Deus. E depois de longo e profundo cismar, muitas vezes punha-se a entalhar na árvore, testemunha de sua primeira ventura, o nome querido de Tancredo! Tão doce aos seus ouvidos. Com tanto esmero procurou entalhá-lo esse dia que, completamente absorvida nesse empenho, se esquecera do mundo inteiro. E o nome enfim estava completo, e ela pôs-se a soletrá-lo com um enlevo próprio da sua idade, e que só as almas apaixonadas podem compreender, quando o som desagradável, e medonho de um tiro de arcabuz, disparado bem junto dela, a veio arrancar a esse recreio do espírito e a fez estremecer convulsa e dar um grito involuntário. Espavorida, e meia morta de terror, ia ela alevantar-se, quando uma avezinha, uma infeliz perdiz, como que implorando-lhe socorro, veio, ferida e agonizante, cair-lhe aos pés. Movida de compaixão, desvaneceu-se-lhe por encanto o pavor que o som do tiro lhe incutira na alma e, tomando a pobrezinha em suas mãos, por excesso de bondade levou-a ao peito. Um rastro de sangue lhe nodoou os vestidos alvíssimos de neve.
Nesse momento, a desgraçada perdiz exalou o derradeiro suspiro: a moça deixou-a cair das mãos, levou estas aos olhos, e exclamou:
— Jesus! Meu Deus!
É que mudo, e contemplativo, junto dela estava um homem. Os olhos, tinha-nos ele fixos sobre a donzela amedrontada – dir-se-ia a estátua do pasmo, ou da admiração.
E Úrsula e esse homem por alguns momentos guardaram