— 7 —

santes. Cá a bombordo ainda ha duas. a "Virgem" e a "Maldicta", onde bateu o "Rotterdam".

— "E aquella lisinha, acolá?

— "Uma coitada que nem nome tem. E' mansa, está muito perto da terra, não faz mal a navio. Ali mora um anequim, bichanca do tamanho do diabo, que gosta de virar canôas. Mas, aqui para nós, moço, isto é embromação. Peixe mora em todo lugar, não tem toca como bicho de terra. E' abusão de pescador. Quando ha mar, não se enxerga nada por ali; mas se a agua serena, e vem vindo a vasante, vai appareccendo um lombo de pedra lisa com geito de peixe. Passa um pescador atolambado. vê aquillo de longe. E' anequim! é anequim! e toca a safar com o medão n'alma. Se acontece embrabecer a agua, e dá temporal, e a canôa vira: qu'é de Fulano? tá, tá, tá, foi o anequim! Toda a gente péga feito mulher velha: foi o anequim do pharol! Ora ahi está como são as coisas. Elle ha muito anequim e tintureiras por aqui. Onde é mar sem cação? Mas dizer que um tal móra ali, é embroma.

E na sua pinturesca linguagem de maritimo, que ás vezes se tornava prodigiosamente technica, narrou-me toda a vida daquellas paragens maldictas. Falou de como, segundo a tradição, se foram baptisando os recifes; falou dos crimes de cada um, das hecatombes periodicas de aves nocturnas que, cegadas pela luz, batem de peito contra os vidros da lanterna, juncando o chão de corpinhos latejantes; das medonhas tormentas nas quaes o pharol estremece como a tiritar de pavor. De que não falou Gerebita, naquelle inesquecivel dia?