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VERSOS DA MOCIDADE



Eu de mal para mal por força corro:
Ou matam-me os dezejos mal vencidos,
Ou cedes, venço, e te desgraço, e morro

Toda a tua beleza a um lado ponho,
Toda a tua candura de outro lado:
Meu pobre coração, dezatinado
Hezita, a balançar de sonho a sonho.

Que é que mais amo em ti? Tudo. Eu oponho
Tua propria inocencia ao teu agrado...
Nem veja eu nunca as manchas do pecado
No marmore divino com que sonho!

E’s tu, de rosto lindo e de ar modesto,
A que a meus olhos sempre se afigura
Perfeita, em cada linha, em cada gesto;

Alucina-me a tua formozura...
Mas eu não posso ser sinão honesto
Porque não posso amar-te sinão pura.