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Distinguem os selvagens suas idades por certos graus, e cada grau tem no

espicio de sua entrada, seu nome proprio, que ensina ao que pretende entrar em seo palacio os seos jardins e alamedas, a sua occupação, e isto por enigmas, como eram outr’ora os Hierogliphos dos Egypcios.

O primeiro grau é destinado as crianças do sexo masculino e legitimos e dão-lhe em sua lingua o nome de Peitan, isto é, «menino sahindo do ventre de sua mãe.»

Á este primeiro grau da idade do menino é inteiramente cheio de ignorancia, de fraqueza e de lagrimas, base de todos os outros graus.

A natureza, boa mãe d’estes selvagens, quiz que o menino sahindo do ventre de sua mãe, se achasse em estado de receber em si as primeiras sementes do natural commum d’estes selvagens, porque não é afagado, pensado, aquecido, bem nutrido, bem tratado, nem confiado aos cuidados de alguma ama, e sim apenas lavado em algum riacho ou n’alguma vasilha com agua, deitado n’uma redezinha de algodão, com todos os seos membros em plena liberdade, nus inteiramente, tendo por unico alimento o leite de sua mãe, e grãos de milho assados, mastigados por ella até ficarem reduzidos á farinha, amassados com saliva em forma de caldo, e postos em sua boquinha como costumam a fazer os passaros com a sua prole, isto é, passando de bocca para bocca.

É bem verdade, que quando o menino é um pouco forte, por conhecimento e inclinação natural, ri-se, brinca e salta, nos braços de sua mãe, pensando estar mastigando sua comida, levando seo bracinho á bocca d’ella, recebendo no concavo de sua mãosinha este repasto natural, que leva á bocca e come: quando se sente farto, bota fóra o resto, e virando a cara, e batendo com as mãos na bocca da mãe, lhe dá a entender que não quer mais.

Obedece a mãe promptamente não forçando seo apetite e nem lhe dando occasião de chorar.