84

CAPITULO XXIII

Da consaguinidade entre os selvagens.


Como entre nós, a consaguinidade entre estes barbaros tem muitos graus e ramos, e se observa entre todas as familias com tanto cuidado como fazemos, excepto porem a castimonia, que tem alguns embaraços entre elles, menos no primeiro grau — de pae para filha.

Entre os irmãos e irmans não ha casamentos, mas duvido, e não sem razão, da regularidade da vida d’elles, e nem isto merece ser escripto.

Bróta o primeiro ramo do tronco de seos avós, que elles chamam Tamoin,[NCH 41] e debaixo desta denominação comprehendem todos os seos ante-passados desde Nóe até o ultimo dos seos avós, e admira como se lembram e contam de avô em avô, seos ante-passados, o que difficilmente fazemos na Europa podendo remontar-nos, sem esquecer-nos, até o tataravô.

O segundo ramo nasce e cresce do primeiro e chama-se Tuue, «pae», e é o que os gera em legitimo casamento, como acontece entre nós, porque para os bastardos ha outra Lei, de que fallarei em lugar proprio.

Este ramo paterno dá outro, que se chama Taire, «filho», o qual se córta e divide-se em diversos galhos, a que chamam chéircure, «meo irmão mais velho», um dia — a cumieira da casa e da familia, e chéubuire, «meo irmãosinho», que só cuidará da casa, si fallecer seo irmão mais velho.

Tendo filhos um destes irmãos, qualquer que seja o sexo, deve chamar o irmão de seo pae chétuteure, «meo tio» e sua mulher chéaché, «minha tia». Da mesma forma si seo pae tiver irmans elle as chama chéaché, «minha tia», como tambem os maridos d’estas chétuteure, «meo tio».

Os tios e tias chamam os meninos de seos irmãos e irmans chéyeure «meo sobrinho», e as meninas reindeure ou chereindeure, «minha sobrinha».