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Aconteceu encolerisarem-se muitas vezes duas ou tres pessoas da nossa equipagem na aldeia, em que estavam. Vieram por isto os Principaes ao Forte de São Luiz queixarem-se e pedindo, que lhes tirassem de lá esses Francezes, porque lhes faziam medo, e especialmente a seos filhos, o que conseguiram.

Si as questões de palavras e as raivas são temiveis, muito mais ainda o são os insultos e as disputas, o que é muito raro, a ponto de espancarem-se, o que chamam ionupan «espancar-se», e ainda mais quando se ferem, o que explicam por iuapichap, «ferir-se,» mormente quando depois de se haverem maltratado reciprocamente vão por despeito queimar as suas casas, o que exprimem pela palavra Iuapic «incendiarios» reciprocos: todos sentem estas coisas, e ninguem se atreve a metter-se entre elles para aplacal-os: eis como fazem: vae cada um para seu lado, e tomando uma porção de pindoba secca, acendem-na, atiram sobre a cobertura de sua propria casa, dizendo uns aos outros — salve quem poder sua casa, queimei a minha, ninguem podia oppôr-se a minha vontade, e assim em poucos momentos a aldeia está queimada e ninguem lhe diz nada.

Aconteceria isto muitas vezes na Ilha, se não fosse o receio que tinham dos Francezes.

Não gostam de ser injuriados, seja homem ou mulher, e nem mesmo as publicas consentem que se as chame Pataqueres «meretrises.»

Recorda-me que tendo tido uma india escrava um filho de um Francez, as outras lançaram-lhe isto em rosto chamando-a Pataquere, «meretriz» com o que se doeu muito, e disse que, se continuassem, ella mataria seo filho ou o enterraria vivo.

Chamam a injuria Curap.

Ninguem se admire de evitarem estes selvagens a colera e seos effeitos, por ser esta paixão contraria a natureza do homem, fazendo-o inteiramente bruto, como disse São