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Basilio Magno, na Homilia 10, da ira, e transformar o homem n’um animal feroz — Hominem penitus in feram converti: São Gregorio de Nissa, na Oração 2ª sobre a bemaventurança, compara a colera com esses antigos feiticeiros do Paganismo, que por encanto mudavam e transformavam o homem em diversos animaes ferozes como o javaly e a panthera. A colera faz o mesmo.

São Gregorio Magno, no 5º livro da sua Moral, cap. 30, diz ser o cerebro do colerico o buraco, onde se geram as víboras. — Cogitationes iracundi viperæ sunt generationis.

Platão contra esta paixão aconselhava, como remedio, aos seos discipulos, que observassem bem os gestos e as palavras de um homem colerico, e ou que se mirassem n’um espelho quando se enraivecessem.

Não é coisa nova e nem fóra de proposito o temerem e fugirem estes selvagens quando veem um homem encolerisado, especialmente um Francez, porque diz o proverbio, cap. 27 — Impetum concitati spiritus ferre quis poterit?

Não é menos difficil de crer-se, que, por despeito, apoz calorosa ou inconveniente questão, queimem elles suas casas, porque no Proverbio 26 acha-se sicut carbones ad prunas et ligna ad ignem — assim como o carvão é para o brasieiro, e a lenha para o fogo, assim tambem a questão de palavras é para o homem naturalmente colerico, sic homo iracundus suscitat rixas, e no Ecclesiastico 28, secundum ligna sylvæ, sic ignis exardescit — tal é a quantidade da lenha qual a força do fogo, fallando da colera.