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e sim o pequeno, que todos soffrem na vida, similhante a syphilis e a variola na Europa.

Esta bouba grande excede em dor e sordidez, sem comparação, ao mal de Napoles, e com razão, porque merece ser punido n’esta vida o peccado, que commettem os francezes com as Indias, arrebatando de nossas mãos, estas infelizes almas quando pretendiamos salval-as, si com seos maus exemplos não as conduzissem ás fornalhas da lubricidade.

Meditem bem os que são capazes de commetterem taes crimes, na conta que darão a Deos por haverem causado o damno e a perda d’estas pobres almas indigenas.

Si a vida eterna é somente concedida aos que buscam a salvação de outrem, que lugar esperarão os que, para satisfação de brutaes desejos, seduzem essas pobres creaturas a ponto de fazel-as despresar as prédicas do Evangelho e a sua propria salvação?

Tempo e paciencia são os principaes remedios para esta molestia; os suores aproveitam muito, mitigam e encurtam o tempo, bem como as dietas e o regimen de vida.

A experiencia tem mostrado, que para estas molestias a carne mais propria é a do tubarão (não usada pelos sãos, por lhes fazer vomitar até sangue, e produzir-lhes grandes molestias) cozida com hervas duras e amargas, que se encontram em todo o paiz.

Por um momento de prazer soffrem mil dores, e o que para os bons é veneno para elles é carne saudavel, embora de mau gosto.

É costume d’este astuto Boticario Satanaz untar o bordo do copo com mel ou assucar para se beber de um só trago o veneno, que depois vae roer e encher de dor as entranhas: quero dizer, que ao peccador apresenta o prazer, e não o seo castigo, e bem depressa experimenta o desgraçado, que o prazer vôa, porem a dor é eterna.

O Sr. de Ravardiere, outros francezes, e eu sobre todos, soffremos intensas febres quartans, terçans, e incertas, as