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o conheci, já tivesse passado dos sessenta. Não ruminava.

Ao contrário, nunca cessou de aumentar a sua instrução, limando-a, polindo-a, estendendo-a a campos longínquos e áridos. Para que seria esse trabalho senão para criar?

É verdade que se podia atribuir ao seu gosto pessoal, perfeitamente desinteressado nas coisas de pensamento, sem objetivo ou tenção de obra ou lucro de qualquer natureza.

Mais tarde, porém, fiquei perfeitamente certo de que era só curiosidade intelectual que o animava e mantinha nas suas leituras árduas, mesmo porque não se podia encontrar outra espécie de explicação à vista da obscuridade a que se havia voluntariamente imposto.

Ele, como Mérimée, não tinha a quem oferecer colares de pérolas. Gonzaga, solitário, sem filhos, membro de família a extinguir-se, a quem iria dar a sua glória?

Deixando de seguir um curso profissional qualquer, foi como se fugisse aos programas para ler com mais ordem e método os autores, ao jeito de quem vai escrever uma memória ou um Felix Alcan, de 7 francos e 50. Fez o seu curso à antiga, em matérias isoladas, abandonando o seriado das universidades medievas, tradição que, dominando nas nossas faculdades,