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Graciliano Ramos

cutavam as lorotas do pae. Começaram a discutir em voz baixa uma passagem obscura da narrativa. Não conseguiram entender-se, arengaram azedos, iam-se atracando. Fabiano zangou-se com a impertinencia delles e quiz punil-os. Depois moderou-se, repisou o trecho incomprehensivel utilizando palavras differentes.

O menino mais novo bateu palmas, olhou as mãos de Fabiano, que se agitavam por cima das labaredas, escuras e vermelhas. As costas ficavam na sombra, mas as palmas estavam illuminadas e cor de sangue. Era como se Fabiano tivesse esfolado um animal. A barba ruiva e emmaranhada estava invisivel, os olhos azulados e immoveis fixavam-se nos tições, a fala dura e rouca entrecortava-se de silencios. Sentado no pilão, Fabiano derreava-se, feio e bruto, com aquelle geito de bicho lerdo que não se aguenta em dois pés.

O menino mais velho estava descontente. Não podendo perceber as feições do pae, cerrava os olhos para entendel-o bem. Mas surgira uma duvida. Fabiano modificara a historia — e isto reduzia-lhe a verosimilhança. Um desencanto. Estirou-se e bocejou. Teria sido me-