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Graciliano Ramos

escuro, porque era noite, e a gente que andava no quadro precisava deitar-se. Levantou o focinho, sentiu um cheiro que lhe deu vontade de tossir. Gritavam demais ali perto e havia luzes em abundancia, mas o que a incommodava era aquelle cheiro de fumaça.

Os meninos tambem se espantavam. No mundo, subitamente alargado, viam Fabiano e sinha Victoria muito reduzidos, menores que as figuras dos altares. Não conheciam altares, mas presumiam que aquelles objectos deviam ser preciosos. As luzes e os cantos extasiavam-nos. De luz havia na fazenda o fogo entre as pedras da cozinha e o candieiro de kerozene pendurado pela asa numa vara que sahia da taipa; de canto, o bemdito de sinha Victoria e o aboio de Fabiano. O aboio era triste, uma cantiga monotona e sem palavras que entorpecia o gado.

Fabiano estava silencioso, olhando as imagens e as velas accesas, constrangido na roupa nova, o pescoço esticado, pisando em brazas. A multidão apertava-o mais que a roupa, embaraçava-o. De perneiras, gibão e guarda-peito, andava mettido numa caixa, como tatu,