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Graciliano Ramos

çado, era como um cachorro, só recebia ossos. Porque seria que os homens ricos ainda lhe tomavam uma parte dos ossos? Fazia até nojo pessoas importantes se occuparem com semelhantes porcarias.

Na palma da mão as notas estavam humidas de suor. Desejava saber o tamanho da extorção. Da ultima vez que fizera contas com o amo o prejuizo parecia menor. Alarmou-se. Ouvira falar em juros e em prazos. Isto lhe dera uma impressão bastante penosa: sempre que os homens sabidos lhe diziam palavras difficeis, elle sahia logrado. Sobresaltava-se escutando-as. Evidentemente só serviam para encobrir ladroeiras. Mas eram bonitas. Ás vezes decorava algumas e empregava-as fóra de proposito. Depois esquecia-as. Para que um pobre da laia delle usar conversa de gente rica? Sinha Terta é que tinha uma ponta de lingua terrivel. Era: falava quasi tão bem como as pessoas da cidade. Se elle soubesse falar como sinha Terta, procuraria serviço em outra fazenda, haveria de arranjar-se. Não sabia. Nas horas de aperto dava para gaguejar, embaraçava-se como um menino, coçava os