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Graciliano Ramos

mulher. Nem precisava falar: bastavam os gestos. Sinha Terta é que se explicava como gente da rua. Muito bom uma criatura ser assim, ter recurso para se defender. Elle não tinha. Se tivesse, não viveria naquelle estado.

Um perigo entrar na bodega. Estava com desejo de beber um quarteirão de cachaça, mas lembrava-se da ultima visita feita á venda de seu Ignacio. Se não tivesse tido a idéa de beber, não lhe haveria succedido aquelle desastre. Nem podia tomar uma pinga descançado. Bem. Ia voltar para casa e dormir.

Sahiu lento, pesado, capiongo, as rosetas das esporas silenciosas. Não conseguiria dormir. Na cama de varas havia um pau com um nó, bem no meio. Só muito cançaço fazia um christão accommodar-se em semelhante dureza. Precisava fatigar-se no lombo dum cavallo ou passar o dia concertando cercas. Derreado, bambo, espichava-se e roncava como um porco. Agora não lhe seria possivel fechar os olhos. Rolaria a noite inteira sobre as varas, matutando naquella perseguição. Desejaria imaginar o que ia fazer para o futuro. Não ia fazer nada. Matar-se-ia no serviço e mo-