Vidas Seccas
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veria rugas e cabellos brancos. Arruinado, um caco. Não sentira a transformação, mas estava-se acabando.

O suor humedeceu-lhe as mãos duras. Então? Suando com medo duma peste que se escondia tremendo? Não era uma infelicidade grande, a maior das infelicidades? Provavelmente não se esquentaria nunca mais, passaria o resto da vida assim molle e ronceiro. Como a gente muda! Era. Estava mudado. Outro individuo, muito differente do Fabiano que levantava poeira nas salas de dança. Um Fabiano bom para aguentar facão no lombo e dormir na cadeia.

Virou a cara, enxergou o facão de rasto. Aquillo nem era facão, não servia para nada.

Ora não servia!

— Quem disse que não servia?

Era um facão verdadeiro, sim senhor, movera-se como um raio cortando palmas de quipá. E estivera a pique de rachar o quengo dum semvergonha. Agora dormia na bainha rota, era um troço inutil, mas tinha sido uma arma. Se aquella coisa tivesse durado mais