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Graciliano Ramos

uma lazeira, certamente, mas vestia farda e não ia ficar assim, os olhos arregalados, os beiços brancos, os dentes chocalhando como bilros. Ia bater o pé, gritar, levantar a espinha, plantar-lhe o salto da reuna em cima da alpercata. Desejava que elle fizesse isso. A idéa de ter sido insultado, preso, moido por uma criatura mofina era insupportavel. Mirava-se naquella covardia, via-se mais lastimoso e miseravel que o outro.

Baixou a cabeça, coçou os pêlos ruivos do queixo. Se o soldado não puxasse o facão, não gritasse, elle Fabiano seria um vivente muito desgraçado.

Devia sujeitar-se aquella tremura, áquella amarellidão? Era um bicho resistente, callejado. Tinha nervo, queria brigar, mettera-se em espalhafatos e sahira de crista levantada. Recordou-se de luctas antigas, em danças com femea e cachaça. Uma vez, de lambedeira em punho, espalhara a negrada. Ahi sinha Victoria começara a gostar delle. Sempre fôra reimoso. Iria esfriando com a idade? Quantos annos teria? Ignorava, mas certamente envelhecia e fraquejava. Se possuisse espelhos,