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Graciliano Ramos

Sahiram de madrugada. Sinha Victoria metteu o braço pelo buraco da parede e fechou a porta da frente com a taramela. Atravessaram o pateo, deixaram na escuridão o chiqueiro e o curral, vazios, de porteiras abertas, o carro de bois que apodrecia, os dois joazeiros. Ao passar junto ás pedras onde os meninos atiravam cobras mortas, sinha Victoria lembrou-se da cachorra Baleia, chorou, mas estava invisivel e ninguem percebeu o choro.

Desceram a ladeira, atravessaram o rio secco, tomaram rumo para o sul. Com a fresca da madrugada, andaram bastante, em silencio, quatro sombras no caminho estreito coberto de seixos miudos — os dois meninos na frente, conduzindo trouxas de roupa, sinha Victoria sob o bahu de folha pintada e a cabaça d’agua, Fabiano atraz, de facão de rasto e faca de ponta, a cuia pendurada por uma correia amarrada ao cinturão, o aiol a tiracollo, a espingarda de pederneira num hombro, o sacco da matalotagem no outro. Caminharam bem tres leguas antes que a barra do nascente apparecesse.

Fizeram alto. E Fabiano depoz no chão parte da carga, olhou o ceo, as mãos em pala