Vidas Seccas
17

da tremeu, elevou-se, tingiu-lhe o rosto queimado, a barba ruiva, os olhos azues. Minutos depois o preá torcia-se e chiava no espeto de alecrim.

Eram todos felizes. Sinha Victoria vestiria uma saia larga de ramagens. A cara murcha de sinha Victoria remoçaria, as nadegas bambas de sinha Victoria engrossariam, a roupa encarnada de sinha Victoria provocaria a inveja das outras caboclas.

A lua crescia, a sombra leitosa crescia, as estrellas foram esmorecendo naquella brancura que enchia a noite. Uma, duas, tres, agora havia poucas estrellas no ceo. Ali perto a nuvem escurecia o morro.

A fazenda renasceria — e elle, Fabiano, seria o vaqueiro, para bem dizer seria dono daquelle mundo.

Os troços minguados ajuntavam-se no chão: a espingarda de pederneira, o aiol, a cuia d’agua e o bahu de folha pintada. A fogueira estalava. O preá chiava em cima das brazas.

Uma resurreição. As cores da saude voltariam á cara triste de sinha Victoria. Os me-

2 — VIDAS SECAS