16
Graciliano Ramos

Uma, duas, tres, havia mais de cinco estrellas no ceo. A lua estava cercada dum halo cor de leite. Ia chover. Bem. A catinga resuscitaria, a semente do gado voltaria ao curral, elle, Fabiano, seria o vaqueiro daquella fazenda morta. Chocalhos de badalos de ossos animariam a solidão. Os meninos, gordos, vermelhos, brincariam no chiqueiro das cabras, sinha Victoria vestiría saias de ramagens vistosas. As vaccas povoariam o curral. E a catinga ficaria toda verde.

Lembrou-se dos filhos, da mulher e da cachorra, que estavam lá em cima, debaixo dum joazeiro, com sede. Lembrou-se do preá morto. Encheu a cuia, ergueu-se, afastou-se, lento, para não derramar a agua salobra. Subiu a ladeira. A aragem morna sacudia os chique-chiques e os mandacarus. Uma palpitação nova. Sentiu um arrepio na catinga, uma resurreição, de garranchos e folhas seccas.

Chegou. Poz a cuia no chão, escorou-a com pedras, matou a sede da familia. Em seguida acocorou-se, remexeu o aiol, tirou o fuzil, accendeu as raizes de macambira, soprou-as, inchando as bochechas cavadas. Uma labare-