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Graciliano Ramos

tando o mato com as mãos. E os filhos já começavam a reproduzir o gesto hereditário.

Chapchap. Os tres pares de alpercatas batiam na lama rachada, secca e branca por cima, preta e molle por baixo. A lama da beira do rio, calcada pelas alpercatas, balançava.

A cachorra Baleia corria na frente, o focinho arregaçado, procurando na catinga a novilha raposa.

Fabiano ia satisfeito. Sim senhor, arrumara-se. Chegara naquelle estado, com a familia morrendo de fome, comendo raizes. Cahira no fim do pateo, debaixo dum joazeiro, depois tomara conta da casa deserta. Elle, a mulher e os filhos tinham-se habituado á camarinha escura, pareciam ratos — e a lembrança dos soffrimentos passados esmorecera.

Pisou com firmeza no chão gretado, puxou a faca de ponta, esgaravatou as unhas sujas. Tirou do aiol um pedaço de fumo, picou-o, fez um cigarro com palha de milho, accendeu-o ao binga, poz-se a fumar regalado.

— Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta.