Vidas Seccas
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Deu estalos com os dedos. A cachorra Baleia, aos saltos, veio lamber-lhe as mãos grossas e cabelludas. Fabiano recebeu a caricia, enterneceu-se:

— Você é um bicho. Baleia.

Vivia longe dos homens, só se dava bem com animaes. Os seus pés duros quebravam espinhos e não sentiam a quentura da terra. Montado, confundia-se com o cavallo, grudava-se a elle. E falava uma linguagem cantada, monosyllabica e guttural, que o companheiro entendia. A pé, não se aguentava bem. Pendia para um lado, para o outro lado, cambaio, torto e feio. Ás vezes utilizava nas relações com as pessoas a mesma lingua com que se dirigia aos brutos — exclamações, onomatopéas. Na verdade falava pouco. Admirava as palavras compridas e difficeis da gente da cidade, tentava reproduzir algumas, em vão, mas sabia que ellas eram inuteis e talvez perigosas.

Uma das crianças approximou-se, perguntou-lhe qualquer coisa. Fabiano parou, franziu a testa, esperou de boca aberta a repetição da pergunta. Não percebendo o que o filho desejava, reprehendeu-o. O menino estava fi-