Vidas Seccas
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feira se desmanchava; escurecia; o homem da illuminação, trepando numa escada, accendia os lampiões. A estrella papa-ceia branqueou por cima da torre da igreja; o doutor juiz de direito foi brilhar na porta da pharmacia; o cobrador da prefeitura passou coxeando, com os talões de recibos debaixo do braço; a carroça de lixo rolou na praça recolhendo cascas de fructas; seu vigario sahiu de casa e abriu o guarda-chuva por causa do sereno; sinha Rita louceira retirou-se.

Fabiano estremeceu. Chegaria á fazenda noite fechada. Entretido com o diabo do jogo, tonto de aguardente, deixara o tempo correr. E não levava o kerozene, ia-se alumiar durante a semana com pedaços de facheiro. Aprumou-se, disposto a viajar. Outro empurrão desequilibrou-o. Voltou-se e viu ali perto o soldado amarello, que o desafiava, a cara enferrujada, uma ruga na testa. Mexeu-se para sacudir o chapeo de couro nas ventas do aggressor. Com uma pancada certa do chapeo de couro, aquelle tico de gente ia ao barro. Olhou as coisas e as pessoas em roda e moderou a indignação. Na catinga elle ás vezes cantava de gallo, mas na rua encolhia-se.