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Graciliano Ramos

para casa. Que desculpa iria apresentar a sinha Victoria? Forjava uma explicação difficil. Perdera o embrulho da fazenda, pagara na botica uma garrafada para sinha Rita louceira. Atrapalhava-se: tinha imaginação fraca e não sabia mentir. Nas invenções com que pretendia justificar-se a figura de sinha Rita apparecia sempre, e isto o desgostava. Arrumaria uma historia sem ella, diria que haviam furtado o cobre da chita. Pois não era? Os parceiros o tinha pellado no trinta e um. Mas não devia mencionar o jogo. Contaria simplesmente que o lenço das notas ficara no bolso do gibão e levara sumiço. Falaria assim: “Comprei os mantimentos. Botei o gibão e os alforges na bodega de seu Ignacio. Encontrei um soldado amarello”. Não, não encontrara ninguem. Atrapalhava-se de novo. Sentia desejo de referir-se ao soldado, um conhecido velho, amigo de infancia. A mulher se incharia com a noticia. Talvez não se inchasse. Era atilada, notaria a pabulagem. Pois estava acabado. O dinheiro fugira do bolso do gibão, na venda de seu Ignacio. Natural.

Repetia que era natural quando alguem lhe deu um empurrão, atirou-o contra o jatobá. A