Vidas Seccas
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Abriu os alforges novamente: a trouxa de sal não se tinha perdido. Bem. Sinha Victoria provava o caldo na quenga de coco. E Fabiano se aperreava por causa della, dos filhos e da cachorra Baleia, que era como uma pessoa da familia, sabida como gente. Naquella viagem arrastada, em tempo de secca braba, quando estavam todos morrendo de fome, a cadellinha tinha trazido para elles um preá. Ia envelhecendo, coitada. Sinha Victoria, inquieta, com certeza fôra muitas vezes escutar na porta da frente. O gallo batia as asas, os bichos bodejavam no chiqueiro, os chocalhos das vaccas tiniam.

Se não fosse isso... Ahn! em que estava pensando? Metteu os olhos pela grade da rua. Chi! que pretume! O lampião da esquina se apagara, provavelmente o homem da escada só botara nelle meio quarteirão de kerozene.

Pobre de sinha Victoria, cheia de cuidados, a escuridão. Os meninos sentados perto do lume, a panella chiando na trempe de pedras, Baleia attenta, o candieiro de folha pendurado a ponta duma vara que sahia da parede.

Estava tão cançado, tão machucado, que ia quasi adormecendo no meio daquella desgraça.