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Graciliano Ramos

Havia ali um bebedo tresvariando em voz alta e alguns homens agachados em redor dum fogo que enchia o carcere de fumaça. Discutiam e queixavam-se da lenha molhada.

Fabiano cochilava, a cabeça pesada inclinava-se para o peito e levantava-se. Devia ter comprado o kerozene de seu Ignacio. A mulher e os meninos aguentando fumaça nos olhos.

Accordou sobresaltado. Pois não estava misturando as pessoas, desatinando? Talvez fosse effeito da cachaça. Não era: tinha bebido um copo, tanto assim, quatro dedos. Se lhe dessem tempo, contaria o que se passara.

Ouviu o falatorio desconnexo do bebedo, cahiu numa indecisão dolorosa. Elle tambem dizia palavras sem sentido, conversava á toa. Mas irou-se com a comparação, deu marradas na parede. Era bruto, sim senhor, nunca havia aprendido, não sabia explicar-se. Estava preso por isso? Como era? Então mette-se um homem na cadeia porque elle não sabe falar direito? Que mal fazia a brutalidade delle? Vivia trabalhando como um escravo. Desentupia o bebedouro, concertava as cercas, curava os animaes — aproveitara um casco de fazenda sem