Vidas Seccas
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viam-se distinctamente os roncos de Fabiano, compassados, e o rythmo delles influiu nas idéas de sinha Victoria. Fabiano roncava com segurança. Provavelmente não havia perigo, a secca devia estar longe.

Outra vez sinha Victoria poz-se a sonhar com a cama de lastro de couro. Mas o sonho se ligava á recordação do papagaio, e foi-lhe preciso um grande esforço para isolar o objecto do seu desejo.

Tudo ali era estavel, seguro. O somno de Fabiano, o fogo que estalava, o toque dos chocalhos, até o zumbido das moscas, davam-lhe uma sensação de firmeza e repouso. Tinha de passar a vida inteira dormindo em varas? Bem no meio do catre havia um nó, um calombo grosso na madeira. E ella se encolhia num canto, o marido no outro, não podiam estirar-se no centro. A principio não se incommodara. Bamba, moida de trabalhos, deitar-se-ia em pregos. Viera, porêm, um começo de prosperidade. Comiam, engordavam. Não possuiam nada: se se retirassem, levariam a roupa, a espingarda, o bahu de folha e troços miudos. Mas iam vivendo, na graça de Deus, o patrão confiava nelles —