82
Graciliano Ramos

gunta. Não obteve resposta, voltou á cozinha, foi pendurar-se à saia da mãe:

— Como é?

Sinha Victoria falou em espetos quentes e fogueiras.

— A senhora viu?

Ahi sinha Victoria se zangou, achou-o insolente e applicou-lhe um cocorote.

O menino sahiu indignado com a injustiça, atravessou o terreiro, escondeu-se debaixo das catingueiras murchas, na beira da lagoa vazia.

A cachorra Baleia acompanhou-o naquella hora difficil. Repousava junto á trempe, cochilando no calor, á espera dum osso. Provavelmente não o receberia, mas acreditava nos ossos, e o torpor que a embalava era doce. Mexia-se de longe em longe, punha na dona as pupillas negras onde a confiança brilhava. Admittia a existencia dum osso graudo na panella, e ninguem lhe tirava esta certeza, nenhuma inquietação lhe perturbava os desejos moderados. Ás vezes recebia pontapés sem motivo. Os pontapés estavam previstos e não dissipavam a imagem do osso.