Vidas Seccas
83

Naquelle dia a voz estridente de sinha Victoria e o cascudo na cabeça do menino mais velho arrancaram Baleia da modorra e deram-lhe a suspeita de que as coisas não iam bem. Foi esconder-se num canto, por detraz do pilão, fazendo-se miuda entre combucos e cestos. Um minuto depois levantou o focinho e procurou orientar-se. O vento morno que soprava da lagoa fixou-lhe a resolução: esgueirou-se ao longo da parede, transpoz a janella baixa da cozinha, atravessou o terreiro, passou por baixo do pé de turco, topou o camarada chorando, muito infeliz, á sombra das catingueiras. Tentou minorar-lhe o padecimento saltando em roda e balançando a cauda. Não estava alegre, mas tambem não podia sentir uma dor excessiva. E como nunca se impacientava, continuou a pular, offegando, chamando a attenção do amigo. Afinal convenceu-o de que o procedimento delle era inutil.

O pequeno sentou-se, accommodou nas pernas a cabeça da cachorra, poz-se a contar-lhe baixinho uma historia. Tinha um vocabulario quasi tão minguado como o do papagaio que morrera no tempo da secca. Valia-se, pois, de