Vidas Seccas
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Todos os lugares conhecidos eram bons: o chiqueiro das cabras, o curral, o barreiro, o pateo, o bebedouro — mundo onde existiam seres reaes, a familia do vaqueiro e os bichos da fazenda. Alem havia uma serra distante e azulada, um monte que a cachorra visitava, caçando preás, veredas quasi imperceptiveis na catinga, moitas e capões de mato, impenetraveis bancos de macambira — e ahi fervilhava uma população de pedras vivas e plantas que procediam como gente. Esses mundos viviam em paz, ás vezes desappareciam as fronteiras, habitantes dos dois lados entendiam-se perfeitamente e auxiliavam-se. Existiam sem duvida em toda a parte forças maleficas, mas essas forças eram sempre vencidas. E quando Fabiano amansava brabo, evidentemente uma entidade protectora segurava-o na sella, indicava-lhe os caminhos menos perigosos, livrava-o dos espinhos e dos galhos.

Nem sempre as relações entre as criaturas haviam sido amaveis. Antigamente os homens tinham fugido á toa, cançados e famintos. Sinha Victoria, com o filho mais novo escanchado no quarto, equilibrava o bahu de folha na cabe-