beijou-a, com um gesto mais maternal que protetor. Nem lhe deixou concluir a frase de agradecimento; cortou-a com uma carícia; depois falou-lhe da beleza, das ocupações, de cem coisas alheias ao objeto que as reunia, dissimulação generosa, que Estela compreendeu, porque também possuía o segredo dessas delicadezas morais.
Quinze ou vinte dias depois, Valéria interrogou diretamente Estela, e a resposta que obteve foi contrária a suas esperanças.
— Não amo ninguém, disse a moça; e provavelmente não amarei nunca.
— Por quê? replicou vivamente a viúva.
Estela sorriu.
— Podia dizer-lhe, respondeu ela, que não tenho coração...
— Seria mentir. Mas vais talvez dizer que um bom marido não é coisa fácil de achar.
— Isso.
— Tens razão até certo ponto. De todas as aves raras a mais rara é um bom marido; mas o que é raro não é impossível. Meteu-se-me em cabeça que hei de descobrir uma jóia. Se eu a encontrar, que farás tu?
— Aceito, disse a moça depois de um instante.