A Política - Maquiavel: “o fim justifica os meios”
A frase em epígrafe, de autoria de Niccoló Machiavelli (1469-1527), Maquiavel em português, continua sendo interpretada de uma forma variada, quase sempre com um sentido depreciativo, longe do contexto histórico. Ele foi Secretário de Estado da República de Florença, desempenhando funções diplomáticas em vários governos do centro da Europa. Tal experiência lhe fez deduzir que o único modo de salvar o rico território italiano, cobiçado por reis germânicos, espanhóis e franceses, era a aparição de um Príncipe (o título da sua obra mais conhecida) forte e glorioso, capaz de organizar um exército nacional e dar unidade política à Itália. Este fora também o sonho do seu conterrâneo Dante Alighieri, o poeta autor da Divina Comédia, que viveu uns 200 anos antes de Maquiavel. Mas os italianos precisariam esperar até 1860, quando o general Giuseppe Garibaldi conseguirá unificar o território da península, da Sicília ao Piemonte.
O estudioso florentino é considerado o primeiro grande teórico da ciência política moderna. Na verdade, ele é muito mais prático do que teórico. Maquiavel nos ensina que governar é propiciar o bem coletivo, arrancando o homem da sua maldade natural, o egoísmo individualista. Ele foi o inventor da “política do possível”: o governante deve atuar conforme as condições existentes em dada sociedade, sem almejar o alcance de ideais inatingíveis. Foi o primeiro a separar nitidamente os interesses do Estado dos dogmas religiosos, pregando a completa laicidade de qualquer governo. Ao Príncipe é dado o direito de utilizar todos os recursos ao seu alcance possíveis, pois o fim justificaria os meios. Admite até o uso da mentira ou da violência, quando for indispensável, por um breve lapso de tempo e sempre visando o bem comum. Mal interpretada, sua doutrina foi utilizada por correntes políticas extremistas e diametralmente opostas: o fascista Mussolini e o marxista Gramsci se declararam seus seguidores.