A motivação para tornar público este meu trabalho se prende a uma nova experiência de ensino. Professor Titular da área de Teoria da Literatura e Literatura Comparada, já aposentado pela UNESP, recebi convite para ministrar módulos de um curso de Especialização em Metodologia da Pesquisa no campus da Universidade Federal de Mato Grosso, em Pontal do Araguaia, com bolsa de Desenvolvimento Regional do CNPq. A desculpa de não ser da área pedagógica não teve êxito: pediram-me que levasse para a sala de aula minha experiência de longos anos de docência, pesquisa e orientação de trabalhos.

Aceitando o desafio, li a bibliografia sobre metodologia que estava ao meu alcance e redigi os vários tópicos do curso. Testei em classe a matéria elaborada e percebi boa receptividade. Os próprios participantes do curso sugeriram que organizasse os apontamentos, publicando um livro sobre o assunto para que discentes e docentes de outras faculdades pudessem, também eles, se beneficiar do meu esforço intelectual. Aí está o resultado: um trabalho sobre metodologia da pesquisa escrito por um literato e não por um pedagogo! Essa óptica diferente explica, em grande parte, a peculiaridade deste livro em relação à bibliografia existente sobre o assunto.

Meu intuito principal foi estimular todos os que, por obrigação ou opção, iniciam a árdua tarefa da pesquisa intelectual a pensar por si próprios, a criar o hábito da reflexão. Romper os automatismos linguísticos e ideológicos, limpar a mente de todos os dogmas e preconceitos, é o primeiro passo para se fazer ciência, buscar a verdade. O estudo de obras de filósofos e cientistas, que se preocuparam com a teoria do conhecimento, o problema epistemológico, procurando um método, um “caminho” seguro para a descoberta científica, o fazer artístico e a atividade crítica, é de grande ajuda para a realização de um trabalho intelectual sério. Pesquisar não é repetir, transcrever, parafrasear aquilo que os outros já disseram acerca de determinado assunto, mas refletir sobre o material recolhido e apresentar sua contribuição pessoal.

A parte prática da elaboração do trabalho foi dividida em várias etapas, cada fase sendo estudada em seus elementos essenciais, alertando constantemente para a coerência interna entre as partes. Deixamos bem claro que, além das normas genéricas, fundamentadas na lógica mental, válidas para a realização de qualquer trabalho, o pesquisador deve conhecer também os métodos peculiares da área de conhecimento em que se situa sua pesquisa. Assim, de acordo com nossa especialidade, a literatura, apresentamos vários enfoques possíveis de um texto artístico.

Além da parte referente à metodologia aplicada ao estudo da obra de arte literária em seus aspectos internos e externos, o que distingue este trabalho é seu espírito crítico. O aposentado, como a criança ou o louco, goza do privilégio da impunidade: é-lhe dado o poder de expressar o que sente, de dizer verdades presas na garganta, sem medo de sofrer sanções. Ao longo da carreira universitária, fomos obrigados a conviver com normas e praxes que, no lugar de estimular, acabavam entravando as atividades de pesquisa por serem inúteis, anacrônicas, injustas ou cretinas. Em vários momentos do presente trabalho discutimos algumas dessas práticas que desestimulam a produção científica.

Infelizmente, as verbas destinadas ao ensino e à pesquisa nas universidades públicas brasileiras, além de serem insuficientes, são mal administradas. É triste constatar que, enquanto a tecnologia avança a passos gigantescos, a educação e a cultura acusam um constante retrocesso. Os alunos entram e saem de nossas universidades cada vez mais despreparados. Está na hora de refletirmos seriamente sobre os rumos da escola pública em todos os seus níveis, que estão interligados. O professor, o orientador, o chefe de departamento, cada qual em sua esfera de atuação, deve fazer o que estiver a seu alcance para que a chama da inteligência se mantenha sempre acesa. É indiscutível a asserção de que sem pesquisa não há progresso!