CAPITULO IV


A MORADA SUBTERRANEA



No outro dia, assim que tia Nastacia acendeu o lampião da sala de jantar, o caso da sombra veio novamente á berlinda. A negra colocou-se entre a luz e a parede e todos puderam ver que sua sombra havia diminuido um bom pedaço mais.

— Veja, sinhá, dizia ela com o beiço pendurado. Estou só com um toco de sombra. Neste andar acabo sem sombra nenhuma e vai ser uma grande desgraça!

Dona Benta pós os oculos e viu que era isso mesmo.

— O visconde, perguntou ela, ainda não descobriu coisa nenhuma?

— Estou na pista, respondeu o pequeno sherlock. Já examinei cuidadosamente o córte e vi que foi feito com tesoura. Ando agora a examinar o fio de todas as tesouras que existem nesta casa. Pela comparação hei de descobrir com que tesoura o "rato" anda cortando esta sombra — e depois...

— E depois o que? perguntou Emilia com carinha de santa.

— Depois, veremos.

Emilia fez um muxoxo e deu uma cuspidinha de lado, de desprezo.

— Vamos! Comece vovó! pediu Narizinho. Estou ansiosa pelo resto da historia.

Dona Benta sentou-se na sua cadeira de pernas serradas e começou :

— Pois muito que bem. Os meninos voltaram daquela grande aventura no Lago das Sereias com alguns arranhões, que Wendy tratou de curar como pôde, com um otimo unguento "faz de conta". Todos sararam e a vidinha continuou muito feliz na casa de Wendy e na caverna subterranea que a menina arrumara na perfeição.

Essa caverna era uma gruta natural que as aguas haviam escavado na pedra, isso talvez no começo do mundo. Tão velha, que tinha barbas brancas no této — ou estalactites.

— Que vem a ser isso? perguntou Pedrinho.

Dona Benta explicou que em muitas cavernas as aguas das chuvas se coam na camada de terra que ha em cima e pingam do této. Ao atravessarem a camada de terra essas aguas dissolvem certos calcarios e, ao pingarem, esses calcarios dissolvidos endurecem outra vez. E, com o andar do tempo, formam-se compridas estalactites, que são penduricalhos que descem do této das cavernas até o chão.

Acontece tambem se formarem no chão, nos pontos onde a agua pinga, endurecimentos do mesmo genero, que se chamam estalagmites. As estalactites descem do této para o chão e as estalagmites sobem do chão para o této, até se encontrarem.

Dada a explicação, dona Benta continuou:

— Naquelas estalactites os meninos penduravam mil coisas — cestos de apanhar peixe, anzois, varas, porungas e brinquedos construidos por eles proprios. Bem no centro da caverna existia uma lareira.

— Que é lareira, vóvó? perguntou Narizinho.

— Aqui no Brasil temos o clima quente ou temperado e porisso não se usam lareiras nas casas. Nos países frios, porém, não existe quem não saiba o que é lareira, porque não existe casa sem lareira. E' o lugar de fazer fogo para o aquecimento da casa. Entre nós, e em todos os países quentes, fogo só ha na cozinha, para cozinhar. Nos países frios, alem desse fogo da cozinha ha o fogo para aquecer a casa. Mas isso unicamente nos paises atrasados. Nos países adiantados, em vez da velha lareira existe um sistema de canos de agua quente que percorrem todos os quartos e salas e os mantêm na temperatura que se deseja.

— Basta, vóvó, disse a menina. Continue.

— Pois é como eu ia dizendo, continuou ela. Wendy deixou a caverna um brinco de asseio e ordem. Arranjou para os meninos uma cama larga e macia onde todos se arrumavam muito bem. Tambem arranjou um berço para o Miguel. Miguel não estava mais em idade de berço, mas Wendy era de opinião que não pode existir casa sem berço, e como ele fosse o mais criança, teve de representar o papel de bêbê. Esse berço não passava duma das cestas de apanhar peixe, arrumada entre duas estalactites.

Wendy não esqueceu nem sequer da sua terrivel inimiga Sininho. Arranjou para ela, num canto, um quarto de boneca, fechado com cortinas vermelhas e cheio de lindas coisas minusculas, proprias para uma fada daquele tamanhinho.

Cadeiras não havia na gruta, mas havia bancos feitos de chapeus-de-sapo, um para cada menino. Wendy e Peter Pan usavam uma poltrona especial, feita de duas enormes cabaças recortadas com muito jeito. Ali se sentavam juntinhos, como fazem os papais e as mamães que se querem bem.

Certo sabado á noite estavam todos muito ansiosos á espera de Peter Pan, que saira pela manhã numa expedição cinegetica.

— Páre aí, vóvó! berrou Pedrinho. Essa palavra esquisita me deixou tonto. Que vem a ser isso?

— Coisa muito simples, respondeu dona Benta. Cinegetico quer dizer relativo a caçada. Expedição cinegetica significa o mesmo que caçada.

— Mas se é tão simples dizer caçada, por que vem a senhora com essa terrivel complicação? observou Pedrinho, que era inimigo de palavras dificeis.

— Para você perguntar e eu ter ocasião de ensinar uma palavra nova que ninguem aqui sabe. Neste mundo, Pedrinho, precisamos conhecer a linguagem das gentes simples e tambem a linguagem dos pedantes — senão os pedantes nos embrulham. Você já aprendeu o que é cinegetico e se em qualquer tempo algum sabio da Grecia quiser tapear você com um cinegetico, em vez de abrir a boca, como um bobo, você já pode dar uma risadinha de sabidão.

— Vou aplicar este cinegetico já e já, disse o menino, entusiasmado.

Tia Nastacia, que saira para ferver a agua do chá, vinha entrando.

— Sabe, tia Nastacia, que amanhã vou fazer uma expedição cinegetica?

A palavra tonteou a negra, fazendo-a piscar tres vezes.

— Cine, o que?

— Getica, concluiu Pedrinho. Ci-ne-ge-ti-ca!...

Tia Nastacia arregalou os olhos, sem perceber coisa nenhuma. Depois, voltando-se para dona Benta, disse:

— Não deixe ele ir, sinhá. Não sei o que isso é, mas coisa boa não ha de ser. Não deixe, sinha.

Todos se riram da pobre preta.

— Vê, Pedrinho, como é hom saber? Essa mesma cara de espanto você faria, se ouvisse tal palavra antes da minha explicação. Já agora, em vez de ser bobeado, você bobeia os outros. Está compreendendo a grande vantagem de saber?

— Chega de gramatica, vovó, protestou a menina. Vamos á historia. Os meninos estavam á espera de Peter Pan. E depois?

— Pois é. Os meninos estavam á espera de Peter Pan, que saira á caça, e em cima da morada subterranea Pantera Branca e seus indios montavam guarda.

Subito, ouviu-se um assobio agudo. Era o sinal de Peter Pan. De longe já ele anunciava a sua chegada com aquele assobio agudissimo. Pantera Branca foi ao seu encontro, enquanto os meninos subiam ás arvores para vê-lo chegar.

Cada vez que Peter Pan vinha duma das suas excursões, era uma festa entre a meninada. Como bom pai, ele sempre trazia novidades gostosas nos bolsos — frutas do mato, doces, mil coisas. Os meninos o rodeavam como ratos rodeiam um saco de milho, e cada qual ia enfiando as mãos nos seus bolsos para pescar o que saisse.

Peter Pan entrou na caverna e dirigiu-se para o lado de Wendy, naquele momento ocupada em remendar umas meias de Levemente-Estragado. Estava linda no seu vestido côr de outono, com um galhinho de amora do mato nos cabelos.

Peter Pan contou as novidades de lá fóra e pediu noticia de tudo quanto havia acontecido na caverna, durante a sua ausencia. Depois cantou uma cantiga que Wendy achava a coisa mais linda do mundo — mas só quando cantada por ele. Se outro qualquer a cantava, perdia completamente a graça.

Enquanto Peter Pan cantava, os meninos brincavam de guerra. As armas eram os travesseiros e o campo de batalha era a cama grande. O resultado da luta foi o mesmo de sempre: penas por toda a parte (os travesseiros eram de pena) e um trabalhão para Wendy no dia seguinte.

O meio da menina fazer parar aquelas lutas destruidoras consistia em anunciar uma historia nova. Todos sossegavam imediatamente, como por encanto. Vinham sentar-se em redor dela, guardando silencio profundo, e assim ficavam até que o sono os derrubasse.

A historia daquela noite foi inventada por Wendy, que já havia esgotado o sortimento das que tinha ouvido de sua mamãe. Era a historia dum casal cujos tres filhos resolveram fugir de casa durante certa noite de inverno. Os pobres pais haviam caido na mais profunda tristeza e nunca mais fecharam as janelas do quarto dos meninos fujões, na esperança de que por ali mesmo voltassem um dia.

— "Não, Wendy, não é assim, disse Peter Pan com ar de certeza. A janela não está aberta á espera de que os tres meninos voltem. Está fechada porque ha um novo bêbê lá no quarto.

Wendy levou um grande susto. Seria possivel que fosse como Peter Pan estava dizendo?

— "Por que diz isso, Peter? Esteve lá? Viu alguma coisa?

— "Não estive, nem vi, mas imagino, porque foi assim que se deu na casa dos meus pais. Depois que de lá fugi, fui um dia espiar o meu quarto pela janela. A janela estava fechadissima, e dentro, talvez no meu proprio berço, chorava um novo bêbê...

Por que foi ele dizer aquilo? Wendy e os irmãozinhos ficaram na maior inquietação, apavorados com a ideia de novos bêbês dormindo nas suas camas, brincando com os seus brinquedos, ouvindo as historias que eles costumavam ouvir e recebendo os beijos que eles costumavam receber. Oh, isso era horrivel!

Wendy resolveu voltar para casa imediatamente.

Quando declarou essa resolução, a tristeza foi geral. Os meninos perdidos a rodearam, com mil pedidos para que não os abandonasse. Tinham-se acostumado a ter mãe e não suportariam a antiga vida de orfãos.

— "Quem está falando em abandonar vocês? respondeu Wendy. Vão todos comigo, está claro, e toda a vida moraremos juntos, lá em casa.

Os meninos perdidos, felizes como passarinhos, deram saltos de alegria. Que bom! Que bom! Que bom! Iam ter uma verdadeira mãe, grande e perfeita, como era a senhora Darling. Iam viver numa casa linda e andar como todos os meninos da cidade andam.

— "Viva! Viva Wendy! gritaram.

— SÓ Peter Pan resistiu á tentação. Sentia imensamente perder Wendy e seus irmãozinhos, mas não podia admitir a ideia de voltar ao mundo donde fugira logo ao nascer — o horrivel mundo onde os meninos crescem e viram homenzarrões bigodudos e feios. Jamais faria isso. Jamais desertaria a Terra do Nunca a terra onde os meninos não crescem. Os outros que fossem. Ele ficaria sozinho.

Combinado assim, começaram todos a aprontar-se, na maior halburdia e gritaria. Cada qual fez a sua trouxinha, pondo nela os brinquedos e as lembranças mais queridas. Bicudo levou um morcego seco, que desejava mostrar para a senhora Darling.

— Crédo! exclamou tia Nastacia, fazendo cara de horror. Essa ideia só mesmo dum Bicudo. Morcego seco, vejam só...

— Antes morcego seco que morcego vivo, disse Emilia. Eu tenho medo das coisas vivas porque mordem; mas das secas, não. E Levemente-Estragado, que é que levou, Dona Benta?

— Não sei. O livro não diz. Mas com certeza levou uma bobagem do mesmo naipe — um rato seco, por exemplo. Todas as crianças se impressionam muito com bichos secos. Pedrinho, quando contava apenas quatro anos de idade, apareceu-me um dia na sala de jantar com um horrendo gato seco, que empestou a casa inteira. Lembra-se, Pedrinho?

Tia Nastacia lembrava-se muito bem, mas o menino não.

— Continue, vóvó, pediu Narizinho.

— Depois de arranjados os presentes para a senhora Darling, Wendy despediu-se de Peter Pan. Abraçou-o e disse, com os olhos humidos de lagrimas:

— "Minha ultima recomendação é que você não deixe de tomar o seu remedio na hora certa. Veja lá, hein?

Referia-se a um remedio que Peter Pan estava tomando para curar-se das terriveis ganchadas do Capitão Gancho.

Iam partir. Nisto lhes chegou aos ouvidos um barulho lá fóra, bem em cima da caverna subterranea. Que seria? Os meninos ficaram imoveis, á escuta. Barulho de guerra. Ouvia-se distintamente o choque das armas, o assobio das flechas, o rumor dos tombos, os gritos dos machucados. Peter Pan compreendeu logo que os piratas haviam assaltado os indios de surpresa.

— "Se os Peles Vermelhas sairem vencedores, não deixarão de tocar o tam-tam, disse ele e ficaram todos atentos, á espera do toque do tam-tam, sinal de vitoria entre os indios.

A batalha não durou muito tempo. Como de costume, os Peles Vermelhas foram completamente derrotados, fugindo como lebres. Mas dentro do subterraneo os meninos não podiam saber disso, de modo que continuaram de ouvidos atentos, á espera do tam-tam.

Afugentados os indios, o Capitão Gancho resolveu aproveitar-se da oportunidade para dar cabo dos meninos naquele mesmo dia. Ele tinha estado uma porção de tempo a escutar pelo chapeu-de-sapo que servia de chaminé (Peter Pan havia construido um outro para substituir o que fora destruido pelo pontapé do pirata), e pôde ouvir uma boa parte da conversa dos meninos, inclusive o pedaço em que Peter Pan falou do tam-tam.

— "Muito bem, disse consigo o chefe dos piratas. Eles estão á espera do toque do tam-tam, que é o sinal de vitoria dos indios. Ora, estes fugiram e deixaram o tam-tam aqui. Que faço eu? Toco o tam-tam. Os bobinhos lá dentro pensam que Pantera Branca venceu e saem pelos ôcos — e eu os apanho todos um por um. Otimo!

O Capitão Gancho assim pensou e assim fez. Tocou o tam-tam — tam-tam, tam-tam...

Assim que aquele amado som chegou aos ouvidos dos meninos, a alegria foi imensa. Puseram-se a pular e a dansar, porque era a primeira vez que os seus aliados indios venciam os terriveis piratas.

— "Hurra! gritaram todos. Os indios venceram, afinal! Podemos sair sem perigo nenhum, e cada qual tomou caminho do seu ôeo e foi marinhando por ele acima.

O Capitão Ganeho havia postado tres piratas na boca de cada ôco, de modo que os meninos eram caçados um por um, logo que punham a cabeça de fóra. Agarravam-n'os, e amordaçavam-n'os, para que os gritos não dessem aviso aos outros. Tão bem feito saiu aquele servicinho que Peter Pan, lá dentro, de nada desconfiou. Ficou certo de que a meninada lá se ia para Londres, muito em paz, conduzida pela bola de fogo.

Peter Pan estava profundamente triste. Subito, lançou-se á cama, com a cara escondida nas mãos. Dizem que chorou, mas não ha certeza disso.

— Ele então não chorava? perguntou Narizinho.

— Não, nunca chorou, salvo, talvez, nesse dia — mas não ha certeza. Peter Pan considerava o choro como fraqueza propria de mulher.

— Eu queria esfregar cebola nos olhos dele para ver se chorava on não, disse Emilia. Já notei que cebola "comove" mais as gentes do que a historia mais triste que possa haver. E depois?

— Depois deixou-se ficar na cama, com a cara escondida no travesseiro. Enquanto isso o Capitão Gancho, lá em cima, impacientava-se com a demora dele. Havia apanhado todos os meninos, menos justamente o principal.

— "Querem ver que ainda desta vez o raio do tal menino me escapa? murmurou Gancho consigo.

Por fim, vendo que Peter Pan não saia mesmo, o chefe dos piratas pensou, pensou, pensou, para ver se lhe ocorria uma ideia que valesse a pena. Estudou a situação. Entrar pelo ôco, impossivel. As aberturas eram muito estreitas para um cavalão da sua marea. Porta para arrombar não existia. Que fazer? O Capitão Gancho coçava a cabeça, indeciso.

Lembrou-se de espiar pela chaminé. Dava jeito. Viu o menino estirado na cama e, num caixão, á sua cabeceira, o vidro de remedio que Wendy pusera ali.

— "Já sei! esclamou o bandido, iluminado por uma ideia infernal. Derramo umas gotas de veneno naquele vidro e pronto! Otima lembrança.

Assim fez. Por meio dum canudinho enfiado pela chaminé, achou jeito de pingar dentro do vidro de remedio (que estava desarrolhado) seis gotas do peor veneno que existe. Em seguida retirou-se, tomando caminho do seu navio, muito contente da vida, a esfregar as mãos.

— Como? inquiriu Emilia. Se ele só tinha uma, como poderia esfregar as mãos?

— Isto é um modo de falar, explicou dona Benta. Quando queremos dizer que Fulano saiu muito contente, costumamos usar dessa expressão — "Saiu esfregando as mãos", embora o tal Fulano nem mãos tenha. São modos de dizer.

— Continue, vóvó. Não perca tempo com esta boba, disse Narizinho.

— Pois é. O Capitão (ancho envenenou o remedio de Peter Pan e lá se foi para o seu navio, muito contente da vida. Foi certo de que o menino tomaria o remedio e morreria a peor das mortes.

Peter Pan, sozinho na caverna subterranea, não conseguia dormir. Pensamentos tristes es voaçavam pela sua cabeça, como morcegos. Fechava os olhos com toda a força, contava até mil — e nada. Nada do sono chegar. De repente, viu uma claridade. Era a fada Sininho que chegava, mas tão aflita que vinha atrapalhando os tlins-tlins todos.

— "Que ha, Sininho? perguntou ele, erguendo-se da cama.

A bola de fogo narrou a grande desgraça acontecida aos meninos, que estavam naquele momento encarcerados no escuro e sujissimo porão do navio dos piratas. Peter Pan, num pulo de tigre, correu ao rebolo para amolar as suas armas. Deixou a espada que nem navalha e fez no seu punhal de guerra uma ponta fina como a das agulhas. Estava ocupado nisso quando notou que bola de fogo principiava a empalidecer. Assustou-se.

— "Que é que você tem. Sininho? perguntou ele, inquieto — e quasi nem pôde ouvir a resposta, de tão fracos que soa vam os tlins-tlins da pequenina fada.

Sininho estava morrendo. Percebera que o remedio de Peter Pan tinha sido envenenado e o bebera, com a ideia de o salvar. Sacrificara-se por ele, a coitadinha.

— Por que? Não entendo, disse Narizinho.

— Sininho havia refletido que se o avisasse de que o remedio estava envenenado. Peter Pan não acreditaria, supondo que Sininho não queria que ele bebesse o remedio só por ter sido preparado por Wendy. E resolveu então beber o remedio antes que ele o tomasse.

Ao ver que a sua querida fada se ia extinguindo, Peter Pan sentiu uma dor infinita. Perder Sininho era-lhe peor do que perder a propria vida. Precisava salva-la, custasse o que custasse. Mas como?

Peter Pan franziu a testa com toda a força e teve imediatamente uma grande ideia. Subiu pelo ôco e lá, fóra, trepou á arvore mais alta. E bem de cima gritou para o mundo, com toda a força dos pulmões:

— "Quem acreditar em fadas, que bata palmas até não poder mais! E' esse o unico meio de salvar a minha Sininho!...

Tão sincero e sentido foi aquele grito, que todas as crianças da terra o ouviram — e milhões e milhões de palmas ressoaram pelo mundo afóra. Uma barulhada de atordoar a gente...

— E o resultado? perguntou Narizinho, ansiosa.

— Foi otimo, um verdadeiro milagre. A luz de Sininho começou a brilhar de novo e os tlins-tlins tornaram-se ainda mais fortes do que antes. Sininho estava salva!

Assim que a viu completamente boa, Peter Pan deu o maior suspiro de alivio de toda a sua vida.

— "Agora, toca a salvar os outros! disse ele em seguida — e tomando as armas afiadissimas lá so foi em companhia de Sininho ao encontro dos piratas raptores.

— E depois? indagou Pedrinho.

— Depois, cama. Já são nove horas. Para a cama todos! Amanhã veremos o que aconteceu.

Pedrinho danou.

— E' sempre assim. As historias são sempre interrompidas nos pontos mais interessantes. Chega até a ser uma judiação...

Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.