Poesias offerecidas ás senhoras Portuenses/A Melancolia

A Melancolia.
 

Companheira da noute saudosa,
Tu érras sobre a terra sempre triste;
Buscas a solidão, não te intimidão
Ermas montanhas, solitarios bosques:
Dos mortos a morada ás vezes buscas
Entre negros cyprestes onde piam
Essas nocturnas, agoureiras áves;
Ora em deserta praia divagando,
Apraz-te ver do mar a immensidade,
Enlevada n'um extasis te olvidas
Das vagas, que fugir fazem-te á pressa!

Outras vezes sentada n'um rochedo,
O sol vès esconder-se no Occeano,
E surprehender-te a Aurora inda na praia!
Se os ventos com furor sopram raivosos,
Já o mar agilando embravecidos,
Se rebomba o trovão, scintilla o raio,
Voltar par'cendo ao cháos o Universo,
Contemplas este quadro sem pavor,
Pois abalo maior sentes no peito!...